quinta-feira, 18 de abril de 2013

Atraso na viagem



Hoje sonhei que era essência, pura imanência e transcendência
Energia depurada da florescência de minha consciência e crescência
Lá no Norte, as quatro querências, rejeitaram minha docência e sapiência
E no Sul, as quatro decências, aperfeiçoaram-me nas saliências da sobrevivência

Lembrei-me do que disseste para mim: "convido-te para ficar comigo"
Calei-me porque me fizeste um eu sem fim: saúdo-te por estar contigo
Apeguei-me no que me deste como esperança, sim: fortaleço-te por ser abrigo
Acheguei-me sempre no teste bem assim: faço-me totalmente por teu amigo

Por isso sai de lá, doze horas de voo, um sufoco, quase corro
Para vir cá, esperar com enjoo, estômago oco, quase morro
Guardando na memória o som de teus lábios com o convite feito
Fiz tudo o que prometi, fiel fui, anel usei. Agora me aborreci. Que feio!

Parei de sofrer! O norte não será paradeiro. O sul só para aventureiro
Eu sei vencer. A sorte é como pandeiro. Bate-se para dar ritmo primeiro
Você brincou prá valer. A morte é como picadeiro. Serei um romeiro
Você só soube correr. O corte foi ligeiro. Nada apagou por inteiro

Cheguei à capital do Estado, águas torrenciais davam sinais da minha decepção
No Afonso Pena, sem sinal e um caos, nada adiantava dar-te minha real situação
Finalmente, anunciaram rotas alternativas, débeis medidas, para ludibriar meu coração
Ir à Prudente não foi escolha. Foi placebo da companhia para enganar a razão

Queria te ver. Não fui eu que não te esperei. Foi o voo atrasado
Queria te comunicar. Não fui eu que não te liguei. Foi o celular roubado
Queria te encontrar. Não fui eu que não te anunciei. Foi o táxi quebrado
Queria te abraçar. Não fui eu que não te cortejei. Foi o endereço trocado

Então não tenho desculpas, tenho apenas a verdade. É mesmo realidade!
É que agora sofro agruras, de penas e crueldade. É tensa a novidade!
Sua impaciência lisura a cena da minha saudade. É morte à felicidade!
Sou obrigado a viver a clausura da séria maldade. É castigo e penalidade!

Que desperdício! Que papelão! Não mereço isso, não!
Brincar assim é malefício. Levei prejuízo, ó estrupício
O caminho de volta só na ficção. Chance escapou da mão
Sua decisão foi como ofício. Vou cumprir, mas é difícil!